sábado, 17 de maio de 2008

Liberdade

Tinha cheiro de mato. Cheiro de terra molhada e orvalho. A cabeça girava, nenhuma imagem realmente nítida se fazia diante de seus olhos e levantou-se mesmo estando tonto. Olhou ao redor. Que lugar seria aquele? Uma floresta? Não sabia. Não tinha a mínima idéia de como havia chegado ali. Sentou-se novamente e se viu sozinho, apenas uma luneta velha enrrolada em farrapos no chão. Quem diabos teria uma luneta? Pior, quem diabos havia estado naquele lugar horroroso para ter esquecido a luneta? Não pensou mais. Estava naquele lugar e sabia que não tinha sido por vontade própria. A dor de cabeça já tinha passado um pouco mais e mesmo assim, quem ligava? Ele não sabia onde estava, mas sabia de uma coisa, queria sair dalí o mais depressa possível. Pegou a luneta. Nem soube por que a pegou, mas achou que lhe podia ser útil.
Queria realmente que horas eram, tinha uns raios de sol mínimos atravessando a copa das arvores. Devia ser manhã. Se perguntou em que saber que horas eram o ajudaria. Desistiu de pensar. Nunca chegava em conclusões concisas. Quanto mais andava, mas se notava perdido. Não havia nada que o ajudasse, nem trilhas, nem pistas, nem passos, nem nada. Depois de um tempo, ele percebeu que estava silencioso demais para uma floresta. Silêncio demais para qualquer coisa. Um silêncio infernal e pertubador.
Logo cenas começam a passar em sua mente. Um quarto, dentro uma cama e um homem deitado nela. O homem não está com uma boa feição. Na verdade, não tem feições visiveis. Ao lado da cama, uma luneta. Era a mesma luneta que tinha achado. Por um segundo, ele acha ser esse homem. Estranho, não se lembra de nada disso. Evita pensar mais uma vez. Continue andando! Disse para si mesmo. Estava exausto, mas havia começado a caminhar a pouco mais de dez minutos pelas suas não confiveis contas.
O silêncio maldito tinha acabado. Ouviu barulho de águas. Logo se viu de frente a um precipicio onde corria um rio com pedras logo abaixo. olhou para o lado e viu uma trilha que daria em algum lugar. Pronto, lembrou-se. A trilha daria na vila onde morava quando criança! Claro! Como pode se esquecer da floresta em que se atrevia a entrar quando não se tinha mais nada a fazer? Na verdade, nunca tinha entrado tão a fundo. E além do mais, não lembrava como tinha chego lá. Não importava. Poderia aproveitar e visitar seus pais, fazia tempo que não os via. A luneta já não estava mais com ele. Perdeu em algum trecho, como já fizeram. O sentimento de liberdade tomou conta de todo ele. Sabia para onde ir agora. Alí estava o fim de seus 10, 20 ou não se sabe quantos minutos de quase desespero. Livre! Gritou. E se atirou do precipício.

7 comentários:

  1. A verdadeira liberdade é quando os olhos se fecham e você desperta do sonho da vida... Muito legal seu texto, bem criativo prendeu minha atenção e olhe que é dificil eu comentar! Gostei mesmo, parabens.

    Beijo na nuca

    bye bye

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  2. Seus textos são otimos tambem...parabens!!
    Beijos e abraços

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  3. "Liberdade é pouco. O que sinto ainda não tem nome.
    (Clarice Lispector)

    É preciso saltar muros, ir contra a maré, levantar voô e ser feliz.

    "Somente os peixes mortos nadam a favor da correnteza"

    Adorei seu canto aqui, viu?
    Beijo's

    (posso te linkar?)

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  4. cada um com sua forma de procurar a liberdade...
    Esse texto me lembrou alguns da última geração do Fernando Pessoa. Muito legal =]

    Até!

    Olhando Pra Grama - Crônicas de um ansioso

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  5. bem legal seu texto, pena que acho a palavra liberdade um tanto cara para comenta-lá.

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  6. Gostei muito do seu canto...
    Estarei sempre por aqui.
    Obrigada pela visita lá no meu Cais. Seja bem-vinda sempre!
    Beijo,
    Ana

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  7. A liberdade que eu não quero.
    ;)

    Lindo texto, belissimo modo harmonico de escrever.
    Apenas um errinho que eu percebi "Quanto mais andava, mas se notava perdido". Troque o "mas", preposição, por "mais", quantidade.
    :)

    Beijos.

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"Eu ia embora de mim: isso era tudo. Eu ia embora de mim sem saber de onde vinha nem para onde iria..."
Caio Fernando de Abreu