terça-feira, 20 de maio de 2008

Ser do rio

"...diz que não agüenta mais viver em estado emergencial, o que ela quer agora é entrar no rio, talvez morrer, nem sabe, mas entrar no rio, isto é o que importa... por que agora ela vai tentar apenas ser do rio, este senhor gelado, covenhamos, a quem ela agora se entregará qual espiã de uma outra sorte..."

Foi esse trecho Harmada que me veio na cabeça. Talvez Jõao Gilberto Noll tivesse previsto que eu iria passar por aquela ponte, naquele dia, e pronto, escreveu o livro para que eu lesse e lembrasse justamente dessa parte. E foi como me senti. A ponte nem estava tão bem iluminada assim, e o Capibaribe estava escuro, negro. A vegetação na margem, também escura. Não se sabia onde começava o rio, nem onde terminava a folhagem.
Estávamos silênciosas, quem me acompanhava disse algo, nem lembro o que foi, muito menos o que respondi. Eu não tirava os olhos do rio negro que não conseguia ver, a não ser os reflexos amarelos das luzes fracas dos postes. Procurei a lua no céu, por um segundo achei que a localizando no céu, acharia o reflexo dela na água. Não achei nenhum dos dois. Na verdade, não procurei muito, apenas levantei um pouco a vista, e tornei a atenção para o rio.
Talvez essa fosse minha real vontade, me jogar da ponte, cair no rio e sentir suas àguas negras em todo meu corpo. Tenho essa vontade toda vez que atravesso alguma ponte a pé, mas não passa de um pensamento rápido. Era como se o rio fosse resolver todas minhas angústias, a todos os problemas, a todas as dores de cabeça, a todas as noites sofridas. Mas não, o rio não iria resolver nada. Acabou a ponte. Vou para casa. Daqui até lá, mais nenhuma ponte, mais nenhum rio.

8 comentários:

  1. Rio, as lágrimas das pedras, do barro, da selva... Tentador a opção de morrer em um rio, em um puro rio... Belo desabafo! gostei muito... Bom assim que tiver um tempinho irei por seu link a meu blog, mereces mais divulgação!

    Pega meu msn no blog e add lá, é sempre bom ter amigos que sabem usar as palavras.

    Beijo na nuca
    Bye Bye

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  2. Em outro discução, mas também relevante a esta atração, deve ser assim que as drogas nos atraem... Como um rio que passa debaixo de uma ponte para se atirar! :/
    Não sei... Tudo começa na definição do que é droga e o que não é!

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  3. A fuga é um dos sentimentos mais renitentes... Esse rio deve ser lindo, ao seu modo...
    Belo texto. =]


    Até!


    Olhando Pra Grama - Crônicas de um ansioso

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  4. Olha vc escreve muito bem pra sua idade.

    começei a escever com 15 anos.
    e te agaranto vc tá bem melhor do que eu na sua idade.
    trabalhe isso vc tem futuro.
    beijos menina e obrigado pelo comentário doce

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  5. Thank's :)

    O rio certeza que é fraco,
    mais forte é a ponte utópica
    que você cria, mesmo sem a ponte
    és capaz de andar sobre as águas.
    Sentimento são fortes como a pedra.
    Agora vai, passe pela ponte, ande sobre as águas ou nade, nada pode te vencer, viu?

    bj's

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  6. Poema perfeito!


    Adorei o blog!
    Mto bom, tu escreve mto bem!

    Beijo*

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  7. acho que voce deve ser infp.
    não?

    se sim, acho que costumamos ter uma impressão um pouco parecida das coisas. Se bem que isso não é uma regra, óbvio.

    Seu post (li inteiro e achei muito bom), me identifiquei bastante também. Sempre tenho essa vontade de mergulhar nas águas por baixo do concreto.

    Lembrei-me de um documentário bastante polêmico, chamado "The Bridge", não sei se conhece. Mas enfim, deixaram uma câmera o ano inteiro filmando uma ponte famosa nos EUA (não lembro qual) e documentaram todos os suicídios que ocorreram. Bastante chocante, acho que tem o trailer no youtube...

    sei lá, só lembrei.
    essa vontade, não é uma coisa só nossa.

    =D
    beijo guria, te achei uma graça

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  8. ...
    -Eu já me peguei com as mesmas sensações, principalmente quando passava pelo velho Capibaribe, na ponte Buarque de Macedo, já noite.

    E penso agora que pontes me ligam mais que as ruas... pois uma ponte sempre uma margem liga a outra...

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"Eu ia embora de mim: isso era tudo. Eu ia embora de mim sem saber de onde vinha nem para onde iria..."
Caio Fernando de Abreu