sábado, 1 de novembro de 2008

"Coração. Não, não sentia a presença do coração. Nem de qualquer outro órgão: era como se estivesse vazio lá por dentro. Oco. Uma velhiçe em paz quando viesse. E não se aborrecia não. Com essa idéia de envelhecer. Pelo menos, ninguém mais se preocupa com a gente. Um sossego. Sim, seria bom. (...) E então. Enfim, no dia em que os homens descobrirem que melhor do que viver é não viver. Melhor do que pintar, deixar a tela em branco. O papel em branco. A perfeição. Não pensar, nem isso. Devia ter um botão em algum lugar do corpo. Um botãozinho que agente aperta e pronto, pensamento desligado. E o resto. (...) 'Mudar o que deve ser mudado', era um dos lembretes de Mariana. Lembretes do Almanaque da Bravura. Soava como mensagem do discurso de um general. Ou almirante. Almirante Hart. Existiria? Esse Almirante Hart. Enfim, besteira. Uma chatisse, ora, coragem de mudar. Coragem de não mudar, existia?"

Lygia Fagundes Telles

4 comentários:

  1. ...
    -Sabedoria para mudar o que pode ser mudado, e paciência para aceitar o que não se pode mudar...

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  2. adorei a escolha do texto...
    "coragem pra não mudar..."

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  3. Opto por parar, e parar e não sair do lugar. Nem ler nada, nem comer nada, deixar o q resta em mim se manifestar e lutar por sobrevivência, não mais eu!

    Beijos


    Rafa

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  4. Nossa,muito bom o texto da Lygia F.Talvez o verdadeiro ato de coragem seja deixar a tela em branco.Colorir é facil.Adorei:}

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"Eu ia embora de mim: isso era tudo. Eu ia embora de mim sem saber de onde vinha nem para onde iria..."
Caio Fernando de Abreu