domingo, 14 de dezembro de 2008

Crônicas de Neon City (Segundo Capítulo)

Coffee Shop

Visão da Sab:
Logo na entrada havia uma escadaria que levava para algo como um porão, local onde haviam montado o coffee shop. A decoração era carregada. Vermelho, preto, vermelho. Muito vermelho. Poucas luzes. A maioria em cima das mesas redondas, feitas de mogno. Luzes levemente amareladas, sua intensidade era suficiente para iluminar somente a mesa. O local era espaçoso, ao fundo havia um pequeno palco que deveria comportar, no máximo, quatro músicos sem muitos instrumentos. O local estava quase vazio, acho que devido à hora (ainda eram quatro da tarde). Os poucos cidadãos de Neon City que estavam no local vestiam roupas escuras e pesadas. E suas expressões eram entediantes.

Visão da May:
Havia um balcão. Nele se encontrava um atendente com cara de poucos amigos e uma tabela de preços de aspecto antigo. Nada de muito interessante podia ser observado naquele local, fora a não comum decoração. Nas mesas, um casal, uma velha e um homem desacompanhado de feições joviais e aspecto velho ao mesmo tempo. Em frente ao Coffe Shop havia um grande prédio com muitas janelas. No topo, um letreiro de uma marca qualquer ainda apagado. Quatro da tarde deveria ser uma hora em que se via o céu alaranjado, fim de tarde, o sol em poucas horas se punha. Mas em Neon City é sempre cinza. A tarde cinza contrastava com a escuridão do local que cheirava a alguma colônia barata vinda de algum dos ali presentes.


- Vai querer alguma coisa? - indo em direção ao balcão.
- Uma vodka, por enquanto.
- Eu esperava que você pedisse um café, mas... - pede um capuccino e um copo de vodka e senta em uma mesa perto do palco.
- Sentar aqui mesmo? E se algum maldito músico começar uma apresentação?
- Sim. Se ele começar... Bem, daremos um jeito nele. - agradece ao atendente e paga o café e a bebida.
- De onde é esse dinheiro? Achei que estávamos sem um único tostão.
- Existe uma diferença entre o dinheiro necessário para sair de uma cidade e o dinheiro necessário para pagar um café. De todo modo, você nunca soube administrá-lo, então eu resolvi guardar uma parte.
- Ah, você sempre com seus malditos comentários. - se curva com os cotovelos sobre a mesa.
- Malditos? Apenas realistas.
- Eu não gosto do modo como qual você me trata.
- Garotinha sensível... Tsc, tsc, tsc. O mundo não é para aqueles que sentem, mas para aqueles que agem e aqueles que não se permitem sentir.
- A pior merda que já fiz foi deixar você saber quem sou realmente. Você me conhece bem, não é? Você é esperta.
- Uma coisa que é fácil de descobrir é: quem são as pessoas. Por mais que você tente ocultar, seu modo de agir, falar, seu modo de se vestir, o modo como você pronuncia algumas palavras, tudo isso revela indícios de quem você realmente é e de como você se sente. Só é preciso estar atento e saber ligar as coisas. Juntar os fatos. Cada pessoa é como um quebra-cabeças. Você tem as peças, mas nunca sabe como colocá-las no lugar para formar uma figura, só quando a própria "figura" se revela para você. Uma coisa que eu aprendi foi como juntar as peças sem que a pessoa saiba que eu fiz isso.
- Ah, eu não prestei muita atenção ao que disse, mas... Só sei que te acho uma graça quando fala essas coisas.
- Você me deixa entediada com seus comentários pseudo-homossexuais.
- Há! Vai dizer que você não sente seu ego inflar com esses comentários?
- Se eu tivesse interesse por você, talvez ele "inflasse". Como não tenho, são irrelevantes, descartáveis. - olha para a porta e vê cinco pessoas com roupas estranhas e coloridas entrando.
- Está olhando para essas pessoas?
- Sim. Não são moradores de Neon City, observe as roupas e o modo de agir. Movimentos leves, roupas finas.
- É. Totalmente diferente das pessoas daqui. Estou começando a me cansar.
- Desgastante e entediante. - se levanta e vai em direção à porta.
- Vamos embora. - Levanta logo em seguida.

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"Eu ia embora de mim: isso era tudo. Eu ia embora de mim sem saber de onde vinha nem para onde iria..."
Caio Fernando de Abreu