- Aconteceu.
- O que houve?
- Ele... (pausa) Ele morreu.
O olhar desacreditado se cruza com um outro olhar totalmente desamparado. Soube-se do grito, da pressão baixa, do desespero e calou-se.
[...]
- Eu abracei tanto ele, tanto! Chamei por ele, até que me tiraram de lá.
Os outros estão entre o desespero e a imobilidade. A noite foi longa, muito longa. Até que o telefone tocou e se pode dormir.
[...]
Já é quase tarde e não tem quase ninguém em casa.
- Você vai?
- Para onde? Para o enterro?
- É. Para o enterro.
- Não sei.
- Por que?
- Não sei. Enterros não me fazem bem.
- Se você for, tem até as 3 para estar pronta
- Ok, ok.
[...]
- Você não vem? Estão todos aqui.
- Não. E mesmo assim, todos já saíram de casa.
- Certo.
Deveria ter ido? Não sabe. E então chorou esperando por notícias.
[...]
- Minha filhinha, por que você 'tá chorando, ein?
- Nada.
- Claro que não é nada. Se você está chorando, é por que aconteceu algo.
- Não é nada.
Coitada, vai morrer sem saber que ele morreu. Morreu ontem e nada pode ser feito, muito menos ser contado.
[...]
Enquanto isso, no velório, as pessoas mostram toda a razão de viver do ser humano:
- Ela o contrariava muito. Só trazia problemas para ele.
- É verdade. Ela devia ter o poupado mais enquanto era vivo.
- Pois eu não acho. Ela era a mais próxima e se preocupava com ele.
- (cutucada)
- (silêncio)
- (muda-se o assunto)
- (bobagens)
- (bobagens)
- É mesmo?
- É! por que?
- Por que eu não sei como um juiz vai beber naquele barzinho de merda. (inveja)
- (silencio)
[...]
(Fecha-se o caixão)
- EU PRECISO DE VOCÊ! VOCÊ SE FOI MUITO CEDO!
Lágrimas, dor, remorso e até intrigas era tudo o que se notava.
[...]
- Meu querido! Que saudades! O que te traz a Recife assim, de repente?
- Vim lhe ver. (expressão de desconforto)
- Que bom, eu estava com saudades!
(rostos se entreolham)
[...]
(rostos tristes)
- Como foi lá?
- Psssiu! Ela pode estar ouvindo! Ela não pode saber, você sabe disso.
- Tudo bem, ela não está ouvindo.
- Bem... (pausa) Foi triste. (pausa) Muito triste.
E continua sendo.
*****
E continuará para sempre sendo triste. Esse lance de morte é assim, não se pode fazer nada. E agente fica sempre desconsolado. Fora que quando aocntece essas coisas, abre espaço para um monte de pensamentos ruins e más suposições. E no fim, o que me dá mais raiva, é que mesmo com a morte, as pessoas mesquinhas sempre são apenas pessoas mesquinhas.
- O que houve?
- Ele... (pausa) Ele morreu.
O olhar desacreditado se cruza com um outro olhar totalmente desamparado. Soube-se do grito, da pressão baixa, do desespero e calou-se.
[...]
- Eu abracei tanto ele, tanto! Chamei por ele, até que me tiraram de lá.
Os outros estão entre o desespero e a imobilidade. A noite foi longa, muito longa. Até que o telefone tocou e se pode dormir.
[...]
Já é quase tarde e não tem quase ninguém em casa.
- Você vai?
- Para onde? Para o enterro?
- É. Para o enterro.
- Não sei.
- Por que?
- Não sei. Enterros não me fazem bem.
- Se você for, tem até as 3 para estar pronta
- Ok, ok.
[...]
- Você não vem? Estão todos aqui.
- Não. E mesmo assim, todos já saíram de casa.
- Certo.
Deveria ter ido? Não sabe. E então chorou esperando por notícias.
[...]
- Minha filhinha, por que você 'tá chorando, ein?
- Nada.
- Claro que não é nada. Se você está chorando, é por que aconteceu algo.
- Não é nada.
Coitada, vai morrer sem saber que ele morreu. Morreu ontem e nada pode ser feito, muito menos ser contado.
[...]
Enquanto isso, no velório, as pessoas mostram toda a razão de viver do ser humano:
- Ela o contrariava muito. Só trazia problemas para ele.
- É verdade. Ela devia ter o poupado mais enquanto era vivo.
- Pois eu não acho. Ela era a mais próxima e se preocupava com ele.
- (cutucada)
- (silêncio)
- (muda-se o assunto)
- (bobagens)
- (bobagens)
- É mesmo?
- É! por que?
- Por que eu não sei como um juiz vai beber naquele barzinho de merda. (inveja)
- (silencio)
[...]
(Fecha-se o caixão)
- EU PRECISO DE VOCÊ! VOCÊ SE FOI MUITO CEDO!
Lágrimas, dor, remorso e até intrigas era tudo o que se notava.
[...]
- Meu querido! Que saudades! O que te traz a Recife assim, de repente?
- Vim lhe ver. (expressão de desconforto)
- Que bom, eu estava com saudades!
(rostos se entreolham)
[...]
(rostos tristes)
- Como foi lá?
- Psssiu! Ela pode estar ouvindo! Ela não pode saber, você sabe disso.
- Tudo bem, ela não está ouvindo.
- Bem... (pausa) Foi triste. (pausa) Muito triste.
E continua sendo.
*****
E continuará para sempre sendo triste. Esse lance de morte é assim, não se pode fazer nada. E agente fica sempre desconsolado. Fora que quando aocntece essas coisas, abre espaço para um monte de pensamentos ruins e más suposições. E no fim, o que me dá mais raiva, é que mesmo com a morte, as pessoas mesquinhas sempre são apenas pessoas mesquinhas.
A morte, deve ser o segrado disso tudo, só pode.
ResponderExcluirEsse seu texto daria um ótimo curta, viu? Adorei.
Beijo's
Oi, Mayara, obrigada pelo comentário :)
ResponderExcluirA morte pesa para os sensíveis, mas nada será melhor ou pior depois, "...apenas será diferente".
O pior realmente é que as pessoas continuam sempre as mesmas.
ResponderExcluirExperiencia propria.
Vou continuar lendo o blog. Ah, volte quando quiser no meu blog, a infinita mentira do ser é parte d enos.
beijos
rafa
Pode visitar sempre:}..nossa mayara gostei muito do seu seu texto,apesar da minha grande paixao por narrações,fui pego ainda mais interressado ao ver o foco principal do post..A morte.Muita coisa a ser desenvolvida sobre o tema..no final é como voce diz,pessoas mesquinhas..sempre mesquinhas.adorei,vou te adicionar ao meu;*
ResponderExcluirhei ho!!!
ResponderExcluirobrigada pela visita
tmb virei aki sempre, gostei desse lugar
bjinhus