quarta-feira, 13 de maio de 2009

Summertime

Parece que vai chover. Os dias passam lentos, lentos. E de tão lento passam rápido. Eu tenho essa sensação a toda hora. As coisas andam tão devagar que você nem percebe que elas se movem. É como o ponteiro menor do relógio, como a sombra de um objeto qualquer, como a velhice. Agente não percebe, mas quando se vê, o ponteiro já avançou dois ou três números, a sombra já está apontando para outro lado e nós já estamos alguns - ou não só alguns - anos mais velhos. Agente não percebe a passagem, só percebe depois, bem depois. Hoje eu estou assim, lenta, muito. E talvez até velha, muito. Velha de alma, por assim dizer. E eu com o meus não completos dezessete anos já me vejo com os mais de cinquenta da minha mãe, eu não sei dizer. Não sei mais se vai chover, acho que foi só uma nuvem que encobriu o sol. Summertime, time, time. A voz rouca canta, e nossa, como eu queria uma voz rouca assim também. Hoje estou lenta e velha, eu não quero pessoas muito próximas. Hoje estou lenta e velha, não quero conversas. Lenta e velha, só quero assistir o mundo de fora dele, como se eu já tivesse tudo o que eu tinha de fazer em minha vida. Como se eu não fizesse parte dele. Lenta como o ponteiro, velha como o tempo. Lenta como a sombra, velha como o sol. Lenta como a velhice, e velha como ela também. Quero só estar velha e lenta neste dia que nem sei se vai chover ou não. Quero só o ponteiro, a sombra, a velhice, o relógio, o sol, os anos, o objeto, o tempo e as pregas no rosto em meu summertime.

Um comentário:

"Eu ia embora de mim: isso era tudo. Eu ia embora de mim sem saber de onde vinha nem para onde iria..."
Caio Fernando de Abreu