"Era um homem franzino, ar de cansado - um tipo muito conhecido naquela praça. Fazia anos que andava por ali, todos os dias, desde o anoitecer até a madrugada, sentado nos bancos, percorrendo os cafés ou arrastando os passos pelas calçadas. Às vezes ficava a noite inteira sem falar com ninguém, apenas fumando, olhando, pensando... O pessoal da imprensa chamava-lhe "Chicharro", porque diziam que ele estava morto e não sabia; falecera em 1918, vítima da influenza espanhola, fora sepultado e comido pelos vermes, mas não dera ainda por isso. O homem encolhia os ombros. Não ria nem se zangava. (...) E quem sabe se ele não estava morto mesmo? Talvez todas as pessoas estivessem mortas, fossem apenas chicharros que andassem pela vida como fantasmas."
quinta-feira, 21 de maio de 2009
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"Eu ia embora de mim: isso era tudo. Eu ia embora de mim sem saber de onde vinha nem para onde iria..."
Caio Fernando de Abreu