É sempre ela. Sempre aquela mesma garota. Aquela que sempre pega o ônibus no mesmo horário, e que as vezes decide voltar para casa mais cedo. Ela entra e dá um risinho de "bom-dia" subentendido ao cobrador. Passa logo. Senta onde tem menos gente. Entra muda e saí calada. Não conhece ninguém mesmo, não fala ao telefone, nem escuta música. Às vezes tira o caderno da bolsa e escreve. Escreve, escreve, escreve até enjoar e joga fora depois todos os manuscritos. Quando não escreve, apenas observa o vazio com seus olhos melancólicos e confiantes ao mesmo tempo.
É sozinha embora já seja conhecida pelos cabelos vermelhos e sempre assanhados, pelas calças folgadas, pelos olhos borrados de negro, pelas unhas curtas e roídas e mesmo assim, pintadas às vezes de preto, vermelho ou alguma outra cor berrante. Vive apaixonada pelo rapaz charmoso e pela menina sorridente de palavras bonitas. Tem assuntos inacabados e casos não-resolvidos. Ela é algo que ninguém vê.
[...]
E no fundo, no fundo mesmo, ela prefere nem ser notada. É mais interessante desse jeito.
domingo, 21 de setembro de 2008
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"Eu ia embora de mim: isso era tudo. Eu ia embora de mim sem saber de onde vinha nem para onde iria..."
Caio Fernando de Abreu